Por volta da segunda metade do século XIX, em meio ao crescimento populacional e à intensa industrialização na Europa, a vida tornou-se desafiadora para muitas famílias. Diante das dificuldades, corações cheios de esperança voltaram-se para terras distantes, em busca de dignidade, paz e um recomeço. O Brasil, com sua imensidão e promessas, tornou-se refúgio e lar para muitos desses sonhadores.

Na Itália, famílias humildes de camponeses, guiadas pela fé e pelo desejo de dias melhores, deixaram sua terra natal e cruzaram o oceano. Assim chegaram os primeiros imigrantes à região onde hoje floresce o município de Ibiraçu. Com eles, não trouxeram apenas bagagens, mas também uma herança espiritual profundamente enraizada, marcada por devoções queridas, especialmente a São Marcos e à Virgem Santíssima sob o título de Nossa Senhora da Saúde.

Movidos por uma fé viva e ardente, os imigrantes logo ergueram uma singela capela dedicada a Nossa Senhora da Saúde. O lugar escolhido foi uma clareira em meio à mata fechada — um gesto que simbolizava a luz da fé rompendo as trevas da incerteza. Foi a primeira igrejinha da região, um santuário de esperança em meio à nova terra. Em sua bagagem, uma das famílias havia trazido um quadro da Virgem, que foi colocado com carinho e devoção no altar. Mais tarde, esse quadro foi substituído por uma imagem sagrada que permanece até hoje, guardando e abençoando o local com sua presença.

Ali, aos domingos, as famílias se reuniam com simplicidade e fervor. Entre ladainhas, orações e cânticos, alimentavam sua fé, fortaleciam os laços comunitários e mantinham viva a chama do amor divino. Eram realizados batizados, leilões e festas em honra à Mãe de Deus. Em sinal de gratidão pelas graças recebidas por sua intercessão, os fiéis traziam ofertas preciosas, muitas vezes fruto de sacrifícios pessoais.

Até hoje, o local é fonte de fé e devoção. Histórias de curas, milagres e bênçãos concedidas continuam sendo testemunhadas por aqueles que, com o coração contrito, se colocam aos pés de Nossa Senhora da Saúde. Sua presença materna continua acolhendo, confortando e renovando a esperança de todos que ali chegam com fé.

Padroeira

Por volta de 1952, a tradicional festa em honra a Nossa Senhora da Saúde foi transferida para o recém-fundado Centro de Formação, em Ibiraçu, onde continuou sendo celebrada com fé e alegria pelo povo. No entanto, a igrejinha construída com tanto amor pelos primeiros imigrantes jamais foi esquecida — ela permanecia como um santuário silencioso da memória e da fé viva daqueles que ali se colocaram sob a proteção da Mãe de Deus.

Em 1997, movido por inspiração pastoral e sensibilidade espiritual, Dom Geraldo Lyrio Rocha, então bispo da Diocese de Colatina, sentiu o chamado de devolver àquele espaço sagrado sua vocação original. Ele convocou os fiéis para que a Festa de Nossa Senhora da Saúde voltasse a ser celebrada na pequena igreja, berço da devoção mariana na região.

No ano seguinte, durante uma solene e comovente celebração, Dom Geraldo elevou oficialmente a igrejinha a Santuário Diocesano de Nossa Senhora da Saúde. Assim, aquele lugar simples e cheio de graça foi reconhecido como casa de oração e peregrinação para toda a Diocese, um espaço onde o céu toca a terra por meio da intercessão da Virgem Maria.

A devoção continuou a crescer, alcançando o coração da Igreja. Em 2007, o Papa Bento XVI acolheu o pedido de Dom Décio Sossai Zandonade, então bispo diocesano, e concedeu um novo dom ao povo: Nossa Senhora da Saúde foi proclamada oficialmente padroeira da Diocese de Colatina.

Esse gesto da Igreja confirmou o que o povo já sabia com o coração: que Nossa Senhora da Saúde sempre esteve presente, como Mãe amorosa, intercedendo, protegendo e guiando seus filhos com ternura e misericórdia.

Grande festa

Todos os anos, no dia 21 de novembro, se celebra a grande festa em honra de Nossa Senhora da Saúde, padroeira amada da Diocese de Colatina. Nesta data tão especial, o Santuário Diocesano se transforma em um verdadeiro oásis de fé, esperança e devoção.

Milhares de fiéis, devotos e romeiros, vindos de diversas cidades e comunidades, chegam com os olhos marejados e o coração cheio de gratidão ou súplica. Uns vêm para agradecer pelas graças alcançadas; outros, em busca de cura — para o corpo cansado, para a alma ferida, ou para o espírito sedento de paz. Em cada rosto, uma história. Em cada prece, um encontro com o amor materno da Virgem Maria.

A Festa de Nossa Senhora da Saúde tornou-se, com o ar dos anos, a maior manifestação de fé mariana do norte do Espírito Santo. Um verdadeiro testemunho de que, mesmo diante das dores da vida, o povo continua a caminhar com confiança, guiado pelo olhar sereno e misericordioso daquela que é consolo dos aflitos e saúde dos enfermos.